Leitura que protege: combata a adultização infantil com literatura
22 de agosto de 2025
Em poucas palavras: adultização infantil é a exposição precoce de crianças a comportamentos, linguagens, responsabilidades ou conteúdos do mundo adulto — muitas vezes impulsionada por redes sociais e expectativas desproporcionais —, reduzindo o espaço da infância e elevando riscos emocionais e sociais.
Por que a adultização infantil ganhou evidência agora?
Nas últimas semanas, o tema da adultização infantil esteve no centro das atenções, movimentando a internet, mobilizando famílias e educadores e até ganhando espaço no debate legislativo.
O vídeo do youtuber Felca, que viralizou ao denunciar práticas de exploração e sexualização de menores em redes sociais, gerou milhares de denúncias no Ministério dos Direitos Humanos e escancarou como crianças estão vulneráveis a pressões típicas do mundo adulto em ambientes digitais. A discussão chegou ao Congresso, onde o PL 2628/2022 dispõe sobre a proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais e propõe regras mais claras para reduzir a exposição precoce a conteúdos nocivos.
Nesse cenário, entender o que é adultização infantil, suas causas e formas de prevenção tornou-se tarefa urgente para famílias e, sobretudo, para a escola, parte fundamental na formação de crianças e adolescentes.
E se a internet expõe cedo demais os pequenos às pressões do mundo adulto, as escolas, por meio da literatura, podem fazer o movimento inverso: devolver-lhes o direito de imaginar, brincar e elaborar sentidos. O livro abre janelas onde antes havia telas, cria metáforas para falar do indizível e oferece ao professor uma linguagem capaz de transformar alerta em reflexão.
Crianças na Rede: literatura como proteção e diálogo
A adultização infantil acontece quando meninos e meninas passam a vivenciar responsabilidades, comportamentos ou linguagens adultas de forma precoce. Essa exposição pode surgir do contato com conteúdos impróprios, da pressão estética, do excesso de responsabilidades ou de expectativas escolares desproporcionais. O resultado é a perda do espaço da infância, e é nesse ponto que a literatura se apresenta como recurso simbólico e pedagógico. As histórias ajudam a nomear o que é difícil de dizer, oferecem metáforas para experiências complexas e criam um terreno de reflexão segura sobre riscos e desafios.
Pensando nesse potencial, a Editora do Brasil lançou a coleção Crianças na Rede, composta por quatro títulos que abordam, de forma acessível e lúdica, temas fundamentais para enfrentar os perigos do ambiente digital, como como cyberbullying, conversas estabelecidas com estranhos e vício em telas. Além disso, a coleção abre espaço para discutir o próprio sentido da infância em tempos de exposição precoce a linguagens e pressões adultas.
Indicada para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a partir dos 8 anos, a coleção traz narrativas que dialogam diretamente com o cotidiano:
- Palavras que voam: trata do cyberbullying no ambiente escolar, mostrando como as palavras podem ferir e como o respeito é essencial para a convivência.
- Superligado: aborda a ética digital, o excesso de tempo online e a importância do equilíbrio entre o mundo real e o virtual.
- Máquinas do tempo: discute a relação entre tecnologia, família e memória, convidando as crianças a refletirem sobre o uso responsável das inovações.
- A floresta misteriosa: usando a floresta da Chapeuzinho Vermelho como uma metáfora para as maravilhas e perigos da internet, o livro é um alerta pra crianças que não possuem supervisão da família no uso do computador.
A coleção Crianças na Rede é muito mais do que um conjunto de histórias: é uma ferramenta de diálogo, reflexão e transformação, que une escola e família em torno da proteção da infância e da adolescência. Para os professores, a coleção é uma excelente oportunidade de falar sobre cidadania digital, ética, empatia e respeito, alinhando-se às competências da BNCC.
Adultização da infância: um desafio dentro e fora da internet
Ao mesmo tempo, é importante lembrar que a literatura, sozinha, não dá conta de enfrentar todos os aspectos da adultização infantil. O fenômeno também se manifesta em múltiplas dimensões da vida cotidiana. Reconhecer essas situações, dentro e fora do ambiente digital, é passo vital para que possamos agir de maneira preventiva e responsável.
Para nos aprofundarmos na questão da adultização, listamos 10 exemplos a seguir, mas atenção, esse problema social não acontece somente no mundo virtual. Confira:
- Exposição a conteúdos impróprios (filmes, músicas, redes sociais e jogos com violência, sexualização ou linguagem adulta).
- Uso excessivo e sem mediação de redes sociais, onde são pressionadas a se comportar e se apresentar como adultos.
- Exploração do trabalho infantil virtual, no qual é exigido da criança que ela performe como um adulto, sempre disponível para gravar conteúdos e com a responsabilidade ganhar likes e remuneração advinda do engajamento do público ou de parcerias publicitárias.
- Participação em atividades que priorizam aparência e sensualização. Exigir que a criança se preocupe com corpo, peso, roupas ou maquiagem como se fosse adolescente ou adulto.
- Participação em fóruns e chats que normalizam misoginia, racismo, homofobia e o ódio a diversos grupos, pregando atos de violência contra eles. Esses ambientes virtuais focam em meninos pré-adolescentes e adolescentes que estão em busca de acolhimento e empatia, aproveitando-se da sua curiosidade ou da sua fragilidade.
- Assumir responsabilidades domésticas ou financeiras além da idade, como cuidar de irmãos sozinhos ou contribuir para o sustento da casa.
- Expectativas acadêmicas desproporcionais, impondo metas ou pressões como se fossem estudantes adultos (ex.: excesso de cursos).
- Falta de espaço para brincar, substituindo atividades lúdicas por rotinas rígidas e adultas.
- Exposição à erotização em rede social, publicidade e moda, com roupas e poses que não condizem com a infância.
- Participação em conversas e conflitos adultos, como problemas conjugais ou financeiros da família.
E aí, você segue algum perfil de influenciador que realize alguma dessas ações? E as crianças do seu convívio, estão expostas a esse tipo de conteúdo? O cuidado da família e dos professores é essencial, mas não basta. Igualmente importante é a discussão sobre a regulamentação do ambiente virtual para proteger crianças e adolescentes da adultização e de outros perigos virtuais. E é isso que o Projeto de Lei Nº 2628/22 propõe. Vale a pena conhecer a proposta desse PL.
Perguntas frequentes (FAQ)
O que é adultização infantil?
Exposição precoce a conteúdos, responsabilidades e linguagens do mundo adulto, reduzindo o tempo de brincar, imaginar e se desenvolver no próprio ritmo, com riscos emocionais e sociais.
Quais sinais indicam adultização precoce?
- Mudanças de linguagem e aparência / sexualização precoce;
- Consumo de conteúdos impróprios sem mediação;
- Tarefas e responsabilidades acima da idade;
- Atitudes “adultas” persistentes no cotidiano.
Como a escola pode prevenir?
Mediação de leitura, projetos de cidadania digital, combinados claros de uso de tecnologia e diálogo constante com famílias.
Crianças e redes sociais: quais limites?
Idade adequada, contas privadas, tempo de tela combinado, supervisão e conversas regulares sobre privacidade, riscos e como pedir ajuda.
O que o PL 2628/2022 propõe?
Regras para proteger crianças e adolescentes em ambientes digitais, incluindo responsabilidades das plataformas e mecanismos de denúncia.