A ressignificação dos pais educadores

2 de dezembro de 2019

“A busca de uma forma de relação parental com filhos adolescentes que precisa ser reinventada, porque muitos que hoje são pais e mães não desejam repetir a relação que vivenciaram como filhos, na referida idade.”

 

Tenho um filho adolescente em casa. O que eu faço?

Essa pergunta foi elaborada por uma amiga durante uma conversa descontraída que tecíamos num final de tarde.

A princípio, achei que era algum tipo de piada, mas depois percebi que ela falava sério e me pedia ajuda para dar-lhe algumas orientações.

Pois bem, tentando responder, fui colocando minha posição:  a autoridade parental ganha foco nos debates atuais, uma vez que, embora haja consenso quanto a sua indispensável existência, vivenciamos um momento no qual muitas famílias protagonizam a verdadeira “soberania do adolescente”.

A maioria dos pais, perdidos entre as especificidades próprias do desenvolvimento do adolescente e a necessidade de ensinar os comportamentos sociais esperados para a adaptação à vida em sociedade, procura formas interessantes de cumprir seu papel educador. Todavia, a busca deste novo modo de ser pai-educador ou mãe-educadora causa-lhes muita insegurança, porque a vida não admite ensaios e lhes é cobrada uma atuação responsável diante de filhos e filhas.

Durante muito tempo, o papel tradicional dos pais lhes permitia uma autoridade inquestionável. Ordens são dadas e filhos devem obedecê-las, essa era a premissa que reinava em muitos lares brasileiros até a metade do século passado. Os pais, autoritários, tendiam a controlar a vida dos filhos por meio de regras fixas e pouco diálogo. Determinavam o que devia ou não ser feito e usavam de coerção para a instituição da obediência.

Entretanto, tais procedimentos de ação parental passam a ser questionados quando se pretende abandonar um modelo familiar baseado no comando das rígidas ordens para estabelecer um padrão relacional baseado em diálogo, compreensão e negociação.

Há, neste movimento, a busca de uma forma de relação parental com filhos adolescentes que precisa ser reinventada, porque muitos que hoje são pais e mães não desejam repetir a relação que vivenciaram como filhos na referida idade.

O problema é que, na ausência de um parâmetro relacional vivido, posto que nos dias de hoje não se sabe utilizar as referências transmitidas em decorrência da espantosa transformação de hábitos e posturas que se deu nos últimos anos, corre-se o risco de passar diretamente “de oito a oitenta”. Ou, dizendo de outra maneira, nega-se a autoridade absoluta para adotar uma desastrosa permissividade.
Pensando estar agindo de maneira amistosa e democrática, pais e mães agem com permissividade, negligenciando seu papel de educador.

Perdidos entre a austeridade de suas experiências, confundem autoridade com autoritarismo e deixam de desempenhar seu papel de educador.

Com medo de serem autoritários, pais e mães são propensos a exigir pouco, praticar um controle muito fraco e satisfazer todos os desejos dos filhos. Apresentam-se, muitas vezes, como “coleguinhas”, ausentes como autoridade.

Ao observarmos os estilos de práticas parentais descritos, concluímos que a autoridade despótica e as atitudes punitivas drásticas de pais autoritários são tão causadoras de problemas quanto os mimos exagerados de pais permissivos.
É esperado que a legítima autoridade dos pais exista no sentido de dar limites para estabelecer a organização interna do jovem e fazer a mediação dos conflitos, pois a construção de relações familiares fundamentadas na participação e na negociação reivindica dos pais o estabelecimento de uma exigência compreensiva em relação a seus filhos.

Nesta direção, o autoritarismo e a permissividade cedem lugar à flexibilidade. Diante de regras que devem ser obedecidas, há espaço para negociações em cujo contexto os pais têm o direito e o dever de manter as regras, alterá-las e, quando necessário, também abandoná-las. Contudo, é preciso esclarecer que toda negociação deve acontecer por meio de muito diálogo. Caso contrário, pode-se propiciar o aparecimento de comportamentos arbitrários, o que confunde e atrapalha a educação dos mais jovens.
Então, quem tem um filho ou filha adolescente em casa precisa encontrar modelos eficientes para promover uma forma “quase ideal” de ser pai e mãe, hierarquizando a gravidade dos problemas de convivência e atuando dialogicamente, porém com firmeza educativa. Essa tarefa é essencial para o fortalecimento de uma juventude não só autônoma, mas também muito mais responsável.

 

Francisca Romana Giacometti Paris é pedagoga e mestra em Educação.

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