Como está a alfabetização no Brasil hoje?
11 de setembro de 2025
Em poucas palavras: a alfabetização é a base da vida escolar e precisa ocorrer até o fim do 2º ano dos Anos Iniciais. Em 2024, o Brasil chegou a 59,2% de crianças alfabetizadas, mas ainda há milhões sem esse direito garantido. Entender a diferença entre alfabetização e letramento e apoiar professores com políticas como o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada é essencial para alfabetizar crianças com qualidade e equidade.
O cenário da alfabetização no Brasil e os caminhos para avançar
A alfabetização é uma das etapas mais críticas da vida escolar. É nela que a criança se apropria do sistema alfabético, aprende a decodificar palavras, escrever frases e compreender pequenos textos, construindo as bases que sustentarão toda a sua trajetória educacional.
Mas ela não se resume ao domínio do código, precisa vir acompanhada do letramento, que dá sentido social à leitura e à escrita, mostrando à criança que a palavra tem função no mundo, que serve para comunicar, organizar a vida e transformar realidades. Essa combinação — alfabetização e letramento — é o que torna o aprendizado significativo, duradouro e emancipador.
Cenário nacional
Nos últimos anos, o Brasil tem feito esforços para avançar nessa etapa crucial. Em 2024, segundo dados oficiais do Ministério da Educação, 59,2% das crianças foram alfabetizadas na idade certa, ou seja, até o fim do 2º ano do Ensino Fundamental. Houve um crescimento em relação a 2023, quando o índice era de 56%, e mais de 58% dos municípios e 18 estados registraram melhora.
Esses resultados fazem parte do Indicador Criança Alfabetizada (ICA), que consolida avaliações estaduais com base em um ponto de corte nacional: 743 pontos na escala Saeb. Para chegar a esse número, cerca de 2 milhões de estudantes foram avaliados em suas próprias escolas, em uma amostra que cobriu mais de 42 mil instituições de ensino.
O avanço é motivo de comemoração, mas também de preocupação. Afinal, se pouco mais da metade das crianças brasileiras atinge o patamar esperado, isso significa que quase 4 em cada 10 alunos chegam ao 3º ano sem dominar as competências básicas de leitura e escrita. E sabemos bem o que isso significa: dificuldades que se acumulam, desigualdades que se ampliam, desinteresse crescente pela escola e risco maior de evasão. É nesse ponto que entra a importância de olhar para a alfabetização para além de uma meta técnica, como um compromisso social.
Importância da alfabetização
A alfabetização na idade certa é decisiva porque muda o jogo para todo o percurso escolar. Uma criança que aprende a ler e escrever até o fim do 2º ano pode dedicar os anos seguintes a ampliar vocabulário, desenvolver fluência e mergulhar em textos mais complexos. Já aquela que não chega alfabetizada ao 3º ano precisa correr atrás do código ao mesmo tempo em que é exigida em outras frentes, como Ciências e Matemática. O resultado é uma sobrecarga que gera defasagens quase sempre difíceis de corrigir. Por isso, a alfabetização é um direito educacional e uma questão de equidade, cidadania e justiça social.
O debate em torno da alfabetização também envolve um tema fundamental: a diferença entre alfabetização e letramento. O primeiro refere-se ao domínio do sistema de escrita — reconhecer letras, compreender relações fonema-grafema, ler e escrever frases simples. Já o segundo trata do uso da leitura e da escrita em práticas sociais, como escrever um recado para a família, ler as instruções de um jogo, interpretar uma notícia, produzir um texto que circula.
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Uma criança alfabetizada sem letramento pode até decodificar palavras, mas terá dificuldade em dar sentido a elas. Por outro lado, falar em letramento sem alfabetização cria uma ilusão de participação que não se sustenta sem o domínio do código. Na prática, é na escola que as duas dimensões se encontram e precisam ser trabalhadas de forma integrada.
Um ponto que merece atenção é a metodologia do Indicador Criança Alfabetizada. Ao estabelecer um ponto de corte comum em todo o país, o ICA permite comparar realidades diferentes sob a mesma régua. Mas também traz à tona desigualdades regionais profundas. Enquanto algumas redes estaduais já superam 70% de crianças alfabetizadas na idade certa, outras ainda não atingem metade desse patamar. Isso mostra que não basta ter metas nacionais, é preciso apoiar de forma diferenciada os territórios que mais precisam, garantindo recursos, formação e acompanhamento pedagógico.
O que o país tem feito para mudar esse cenário?
Para enfrentar esse desafio, o Brasil conta hoje com o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA), que organiza a cooperação federativa entre União, estados e municípios. O CNCA prevê formação continuada de professores, distribuição de materiais pedagógicos, avaliações periódicas, monitoramento público dos dados e metas progressivas até 2030. A meta é ousada, chegar a 80% das crianças alfabetizadas na idade certa até o fim da década. O diferencial do compromisso está na combinação de apoio técnico e responsabilização, em que cada rede continua autônoma, mas precisa alinhar-se a um padrão nacional e mostrar resultados.
O CNCA também introduz um conceito central para a prática pedagógica: os “trilhos da alfabetização”. Eles funcionam como eixos estruturantes que precisam andar juntos:
- Formação de professores, para que o docente saiba não apenas o que ensinar, mas como ensinar;
- Materiais e rotinas estruturadas, que organizem a prática sem engessá-la;
- Tempo pedagógico protegido, para que leitura e escrita não sejam interrompidas por demandas externas;
- Avaliação formativa, com intervenções rápidas sempre que necessário.
Em sala de aula, esses trilhos se traduzem em ações muito concretas. O professor que lê diariamente para a turma, que organiza rodas de leitura, que estimula a escrita com propósito (listas, cartas, bilhetes, relatos), que observa atentamente os avanços e dificuldades de cada estudante, está colocando os trilhos para funcionar. Quando essas práticas são apoiadas por políticas públicas, formação contínua e acompanhamento pedagógico, os resultados aparecem nos indicadores e na vida real das crianças.