Tinkering: a abordagem criativa que transforma salas de aula
8 de maio de 2025
Imagine uma aula em que o erro é bem-vindo, os caminhos não são lineares e a curiosidade dos estudantes conduz a aprendizagem. Essa é a proposta do Tinkering, uma abordagem pedagógica que pode ser traduzida como “pensar com as mãos” e que ganha cada vez mais espaço nas discussões sobre metodologias inovadoras.
O que é Tinkering e por que ele faz diferença na educação?
O termo Tinkering não tem uma tradução direta para o português, mas costuma ser associado à ideia de exploração livre, improviso e experimentação criativa. Diferente de uma aula baseada em instruções rígidas, o Tinkering valoriza processos abertos e lúdicos, nos quais o estudante constrói conhecimento enquanto manipula materiais, testa hipóteses e dá forma às suas ideias.
Inspirada no construcionismo e no movimento maker, essa metodologia defende que a aprendizagem acontece de forma mais significativa quando é motivada pelo interesse do aluno e conectada ao mundo real. Em vez de seguir um roteiro fixo, o aluno aprende com o que constrói e descobre no processo. É uma forma de ensinar que respeita os tempos e caminhos individuais de cada estudante, abrindo espaço para criatividade, investigação e autonomia.
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Qual a relação entre Tinkering e o movimento maker?
Apesar de semelhantes, há diferenças importantes entre os dois conceitos. O movimento maker costuma focar na execução de projetos bem definidos, com objetivos concretos e etapas pré-estabelecidas. Já o Tinkering estimula o improviso, a adaptação e o aprendizado por tentativa e erro, mesmo quando não há uma meta clara no início do percurso.
Enquanto o maker costuma seguir um plano com começo, meio e fim, o Tinkering convida o aluno a descobrir o caminho durante o processo. O erro, nesse contexto, não é um obstáculo, mas uma oportunidade para aprender. Isso cria um ambiente mais leve e colaborativo, em que a exploração e a escuta mútua ganham espaço, e os alunos se sentem protagonistas da construção do conhecimento.
Como aplicar o Tinkering em sala de aula?
A boa notícia é que o Tinkering pode ser implementado com recursos simples. O mais importante não é o material, mas a atitude investigativa e o papel do professor como facilitador do processo. Papelão, massinha, sucata e até luz natural podem ser insumos valiosos para que os estudantes explorem fenômenos físicos e criem soluções próprias.
Um caminho possível é associar o Tinkering aos conteúdos trabalhados em sala. Por exemplo, ao abordar questões ambientais e o impacto humano sobre a natureza, o professor pode propor a criação de maquetes sustentáveis ou experimentos de reaproveitamento de materiais. Obras como Meu planeta, minha casa, da Editora do Brasil, ajudam a contextualizar esses debates de forma lúdica, conectando-os ao cotidiano dos alunos. A história de Blá, Cadu e Juba traz à tona conflitos reais entre progresso econômico e preservação ambiental, um ótimo ponto de partida para projetos que combinam leitura, reflexão e criação.
Em aulas de Ciências ou Geografia, o professor pode propor desafios baseados em situações concretas: como criar um sistema de irrigação com materiais recicláveis? Ou como representar, em uma construção colaborativa, os diferentes biomas do Brasil? A proposta não é encontrar uma resposta certa, mas permitir que os estudantes experimentem e desenvolvam soluções autorais. O livro Sementes, da Editora do Brasil, também pode enriquecer o trabalho: a jornada de Werá Mirim propõe uma reflexão sensível sobre futuro, ancestralidade e equilíbrio ambiental, elementos que podem ser desdobrados em construções, cartografias e simulações feitas pelos próprios alunos.
Tinkering é possível na escola pública?
Mais do que possível: o Tinkering já acontece em diversas escolas públicas brasileiras, mesmo em contextos com poucos recursos. A abordagem valoriza o uso de objetos simples e materiais reutilizáveis, como tampinhas, garrafas PET, rolos de papel, palitos de sorvete e fios. O que faz a diferença não é a tecnologia de ponta, mas a abertura ao erro, à escuta e à criação coletiva.
A chave está na mudança de postura: menos foco no produto final e mais valorização do processo. Isso exige planejamento por parte do professor, mas não para controlar todas as etapas da atividade, e sim para garantir um ambiente propício à experimentação e à escuta ativa das ideias que surgirem.
O uso de livros que valorizam a diversidade cultural e o saber popular também pode potencializar o Tinkering em contextos públicos. O Almanaque Afro-Indígena, da Editora do Brasil, por exemplo, reúne curiosidades, práticas culturais e saberes tradicionais que inspiram construções, invenções e interpretações sobre a identidade brasileira. Ao associar esses conteúdos a atividades práticas, o educador estimula conexões afetivas e cognitivas mais profundas.
O papel do professor: facilitar, observar, refletir
No Tinkering, o professor deixa de ser o transmissor de conhecimento e passa a ser um mediador da aprendizagem. Ele cria as condições para que os estudantes explorem, sugere materiais, compartilha exemplos inspiradores e, sobretudo, escuta. Depois, ajuda a refletir sobre o que foi aprendido, inclusive a partir dos erros.
Ao adotar essa abordagem, o educador também exercita a curiosidade e a abertura para o inesperado. Afinal, o que nasce de uma atividade de Tinkering nem sempre é previsível, e é justamente essa imprevisibilidade que abre espaço para aprendizados genuínos. O professor precisa estar preparado para acompanhar percursos diversos e valorizar contribuições singulares, mesmo quando elas escapam ao planejamento inicial.
Obras que resgatam momentos históricos sob perspectivas criativas, como Nasci em 1922, Ano da Semana de Arte Moderna, da Editora do Brasil, podem ser utilizadas como inspiração para propostas transversais. A partir de objetos e memórias, os alunos podem construir linhas do tempo alternativas, reencenar acontecimentos ou criar novas narrativas com colagens, esculturas e instalações artísticas feitas à mão.
Tinkering é, acima de tudo, uma forma de valorizar o conhecimento que nasce da experiência e transformar a escola em um lugar onde se aprende criando, errando e descobrindo juntos.