Professor, você pratica escuta ativa ou só ouve o que quer?
9 de outubro de 2025
Em poucas palavras: A escuta ativa é uma prática pedagógica essencial para fortalecer vínculos, promover inclusão e melhorar o clima escolar. Ao desenvolver uma escuta pedagógica sensível, o educador aprende a interpretar as palavras dos alunos, mas também seus silêncios, gestos e expressões — e transforma tudo isso em estratégia de ensino.
Quando o aluno silencia, ele também está dizendo algo
Nem todo pedido de ajuda vem em voz alta. Às vezes, está no olhar vago de quem parou de copiar a lição, no corpo retraído de quem sempre senta no fundo ou no exagero da piada que esconde um incômodo maior. Os alunos se comunicam o tempo todo, mesmo quando não falam. E é nesse espaço do “não dito” que o professor atento pode agir.
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A escuta ativa, nesse contexto, não vai além de uma técnica de comunicação e se torna uma postura ética e pedagógica. Ela exige atenção plena, empatia e disposição para enxergar o estudante como sujeito de direitos, com repertório, emoções e modos próprios de se expressar. Não se trata de interromper a aula para “ouvir o aluno”, mas de ensinar com escuta. O tempo todo.
Escutar é mais do que ouvir: o que diz a pedagogia da escuta
A chamada pedagogia da escuta, inspirada por Loris Malaguzzi e pelas contribuições de Paulo Freire, Piaget, Vygotsky e Wallon, propõe que o professor não seja só um transmissor de conteúdos, mas mediador de sentidos. Isso significa reconhecer que a aprendizagem se dá pela relação. E toda relação começa com a escuta.
Na prática , isso pode parecer difícil diante de tantas demandas, salas cheias e tempo corrido. Todavia, é justamente aí que a escuta se torna ainda mais urgente. Não é preciso criar espaços extraordinários, basta estar presente de verdade. Observar quem mudou de comportamento. Reagendar uma atividade para acolher uma dor. Perceber que aquele aluno que nunca reclama está, na verdade, se calando demais.
A escuta ativa exige desaceleração e intencionalidade: olhar, perceber, legitimar. Não para “dar conta” de tudo, para mostrar que o aluno é visto. Que ele importa. Que há alguém ali que, mesmo diante de tantos desafios, ainda escolhe escutar com atenção, com respeito, com afeto.
Como aplicar a escuta ativa na sala de aula: práticas possíveis
Escutar o aluno é um gesto cotidiano, não uma exceção e isso se traduz em microações que, ao longo do tempo, transformam o clima da escola e o modo como os estudantes se sentem dentro dela.
A seguir, veja práticas concretas que fortalecem a escuta pedagógica em contextos reais, especialmente na rede pública, onde o tempo é curto, os desafios são grandes e a sensibilidade é vital.
1. Observar antes de intervir
Nem todo comportamento precisa de correção imediata. Às vezes, ele pede leitura. A escuta ativa começa na atenção silenciosa: um aluno inquieto pode estar angustiado; outro, calado demais, talvez precise de acolhimento. Observar padrões, mudanças de postura ou quedas no rendimento é o primeiro passo para agir com sentido, não por impulso.
2. Valorizar o que não é dito com palavras
Desenhos, escolhas de brincadeiras, músicas preferidas, formas de andar, de sentar, de interagir, tudo isso comunica. Especialmente nas etapas iniciais, muitos estudantes ainda não sabem nomear suas emoções. Cabe ao educador fazer a “tradução pedagógica” desses sinais, com escuta sensível e sem julgamento.
3. Criar rituais de escuta
Momentos simples podem se tornar rituais potentes. Perguntar “como você está hoje?” na entrada da sala. Reservar cinco minutos semanais para uma roda de sentimentos. Ter uma caixa de bilhetes anônimos. São estratégias viáveis e eficazes que mostram aos estudantes que sua voz (ou silêncio) tem lugar.
4. Acolher antes de corrigir
Quando um aluno comete um erro, a primeira reação do professor é decisiva. Se o erro é recebido com escuta — “o que aconteceu?”, “você quer me contar o motivo?”, “posso te ajudar com isso?” — o aluno compreende que pode confiar. Que será ouvido e não apenas avaliado. E isso muda tudo.
5. Incluir escuta no planejamento
Planejar com escuta é pensar nas aulas a partir do que os estudantes trazem. Isso significa adaptar atividades quando necessário, criar percursos de aprendizagem mais abertos, propor projetos que partam de temas levantados pelos próprios alunos. Quando eles se veem no conteúdo, se envolvem mais.
Importante frisar que escutar, aqui, não é ceder a tudo, é dar sentido ao que se ensina, porque parte de uma escuta ativa do que realmente importa para quem aprende. Ao fim, quando a escola escuta com atenção, transforma-se num lugar de confiança e confiança, sabemos, é a base de qualquer aprendizagem real. Não há método mais potente do que esse: mostrar ao aluno que ele é visto, considerado e respeitado. O resto, como se diz, se aprende com o tempo. Mas a escuta… a escuta precisa começar agora.
Perguntas frequentes (FAQ)
O que é escuta ativa?
Na escola, envolve ler gestos, silêncios, posturas e expressões, criando uma comunicação mais sensível e afetiva com os alunos.
Qual a diferença entre escuta ativa e escuta pedagógica?
Já a escuta pedagógica é sua aplicação no contexto educacional, com foco na aprendizagem, no vínculo com os alunos e na criação de um ambiente seguro, respeitoso e acolhedor.
Por que a escuta ativa é importante na educação?
Uma escuta sensível reduz conflitos, aumenta o engajamento e favorece o aprendizado real.
Como escutar o que o aluno não diz?
O professor também pode criar momentos seguros para que o aluno expresse sentimentos de outras formas, como bilhetes, desenhos ou rodas de conversa.